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Caso Clínico de Classe II com AEB

Bom dia,

Há alguns fim de semanas atrás, dei um curso na sede da SPO, em São Paulo, sobre eficiência no preparo ortodôntico para cirurgia ortognática. Foi muito interessante e apesar da chuva pude rever e fazer novos amigos.

Hoje eu queria falar um pouco sobre um tratamento que tem sido deixado de lado pelos novos “Ortodontistas da nova era”. (Parabéns para quem entendeu o trocadilho com a tradução de nova era para o inglês). O tratamento em questão é o que envolve o uso das trações extra bucais.

O arco extra bucal é um dos aparelhos mais antigos da ortodontia, um dos mais eficientes e talvez o mais simples para se conseguir distalização dos dentes superiores sem efeitos nos inferiores. Ele é classificado como ortopédico de maneira geral pela maioria das pessoas, mas na minha opinião ele trabalha majoritariamente no nível dentoalveolar e só pode ser considerado ortopédico de forma indireta. Vou explicar melhor:

1 – Por quê ele trabalha no nível dentoalveolar? Porque ele está preso aos dentes e a movimentação dentária dos dentes não permite que a força seja aplicada de forma consistente às suturas circumaxilares. O efeito é uma movimentação meramente dentoalveolar no sentido distal, tanto nos jovens quanto nos adolescentes (Am J Orthod Dentofacial Orthop 2008;134:732-41; e Am J Orthod Dentofacial Orthop 2001;119:531-9). O conceito de que esse aparelho restringe o crescimento dento-alveolar vêm de estudos com uma má “construct validity”, onde mede-se o deslocamento do ponto A como se ele fosse um “landmark” esquelético puro. A espinha nasal anterior é muito melhor para isso, mas ela tem um problema de “reliability”. A análise tridente “pitchfork” criada pelo Johnston e modificada pelo Buschang ou o método de sobreposição em implantes ósseos são os melhores meios para se mensurar a restrição maxilar (se bem que métodos com tomografia 3d estão se mostrando bons também).

2- Por quê então ele pode ser considerado ortopédico de forma indireta? Porque ele pode impedir o processo dentoalveolar posterior maxilar de crescer normalmente, influenciando o diferencial de crescimento dessa região com o crescimento condilar superior. Quanto mais o côndilo cresce para cima, mais o pogônio se desloca para anterior. Só que há dois problemas com isso: 1 – Os molares vão para distal muito rápido e a classe II é corrigida mais rápido por distalização do que por esse mecanismo; e 2 – Os molares inferiores extruem, compensando a movimentação dentoalveolar e impedindo o pogônio de ser deslocado para anterior.

As soluções para isso seriam ter um arco extra-bucal vertical puro, como uma mentoneira vertical, a qual já foi mostrado que é efetiva em redirecionar o crescimento da mandíbula para anterior; e impedir-se a extrusão dos molares inferiores, o que pode ser feito com minimplantes (O Peter Buschang vai mostrar isso na ABOR nacional em SC esse ano.)

Bom de qualquer forma ficam essas informações para reflexão, enquanto eu mostro o caso abaixo para a vossa apreciação:

 

Um abraço,

R.Martins

 

Marcal1

Paciente com 8 anos de idade mostrando uma má oclusão de classe II, padrão de crescimento vertical. (O lado oposto encontrava-se em meia Classe II)

Marcal2.jpg

Correção da Classe II após um ano de “EXCELENTE” uso de um “splint” maxilar de Thurow modificado. Nesse momento o paciente passou a utilizar um AEB preso aos molares por bandas com tração alta, por aproximadamente mais um ano, junto a uma PLA (onde ambos os arcos foram expandidos…”a La Alexander”). Os aparelhos foram removidos e um botão de Nance foi instalado para manter o ganho. Percebam que houve uma melhora do perfil  exclusivamente devido a posição labial. O mento não se movimentou de maneira significante, mesmo com a correção da Classe II completa.

marçal3.jpg

Paciente pré-tratamento ortodôntico com 11 anos de idade, pronto para a montagem do aparelho ortodôntico.

mar3.jpg

mar1.jpeg

Nas sobreposições total e parciais (sobrepostas de acordo com o método da Profa. Björk) do tratamento realizado na primeira fase, pode-se perceber que apesar de haver restrição horizontal e vertical do crescimento do processo dentoalveolar dos molares superiores, a extrusão dos molares inferiores impediu a rotação anterior da mandíbula. (Eu tentei o meu melhor para deixar ambos traçados com o mesmo tamanho, já que as radiografias foram tiradas com máquinas diferentes, o que não influencia o que eu quero mostrar – a extrusão dos molares inferiores e a ausência de ganho do mento).

 

marçal4

Paciente finalizado com 2 anos de tratamento. Percebe-se que ao fim do tratamento, as suas características morfológicas continuam as mesmas. (Devido à uma fratura, o pré-molar inferior estava sendo tracionado através de um AOR).


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