Boa Noite,
Esses dias eu estava lembrando do que acontece algum dogma ortodôntico é desmistificado, seja por evidência científica ou seja pelas leis da física.
Um mito comum na ortodontia é a crença de que uma barra palatina pode dificultar, ou mesmo impedir, a movimentação dos molares para anterior durante o fechamento de espaços. Desfazer esse mito em uma palestra sempre gera um mal estar na audiência e, talvez por dissonância cognitiva, leva a uma atitude agressiva de alguns ouvintes. O cérebro humano tem dificuldade em processar, mesmo que existam evidências irrecusáveis, velhas crenças tornando-se falsas. Como isso é inconsciente, temos que estar sempre nos policiando para não sermos uma vítima do nosso cérebro (irônico ou não?).
Bom, voltando ao assunto, nunca me pareceu lógico que unir dois dentes iria impedir que os mesmo se movimentassem para anterior, sendo que a força aplicada a cada um deles continua sendo a mesma. Olhe abaixo nas situações 1 e 2: Na situação 1, temos 100 gf sendo aplicada a cada um dos molares para retração; já na situação 2 temos uma barra palatina unido os dois molares, “para aumentar a ancoragem”. O conceito de que ao unir os dois molares nós aumentaríamos a área de periodonto sobre o qual a força é aplicada, diminuindo a pressão aplicada, não vale.
Porque? Porque agora a força aplicada ao “bloco de ancoragem” unido é de 200 gf e portanto continua sendo 100 gf por molar.
No capítulo sobre distalização do livro Ancoragem Esquelética em Ortodontia, do Roberto Shimizu, pude compartilhar esse fato como co-autor. As evidências que citamos foram duas. Um artigo clínico da Dra. Zablocki, publicado no AJODO em 2008, onde não se encontrou diferenças entre utilizar ou não BP durante o fechamento de espaços, e o artigo do Dr. Kojima, de 2008 também no AJODO, onde através de elementos finitos ele chegou a conclusão de que não há motivos para acreditar que haja diferença na ancoragem antero-posterior com a BP. Vale a pena citar que a Dra. Zablocki ganhou o Thomas Graber Award na AAO de 2006 por esse trabalho apresentado lá, antes da publicação no AJODO.
Quando falo sobre isso, ou mesmo escrevo, sempre alguém gosta de mencionar o Dr. Burstone como autoridade e dizer que ele afirma que a barra palatina faz diferença na perda de ancoragem, o que não é verdade. Por comunicação pessoal posso dizer que ele não diz isso e, quem foi ao congresso americano da AAO na Filadélfia esse ano pôde tirar a dúvida ao vivo. Ele foi bem direto:
“Does a TPA enhance ancorage in closing spaces? The answer is no.”
Abraço a todos,
R.Martins